segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A Guerra dos Homens-Alados

Comprei esse livro por causa da capa. Poucas vezes eu vi uma capa tão tenebrosa quanto essa. Sim, eu sei que é meio estranho comprar um livro porque a capa é horrível, mas eu simplesmente não pude me furtar à esse pequeno prazer. Até tentei encontrar outros trabalhos do capista, mas ele tem um nome tão absolutamente genérico - Edú - que me vi diante de uma tarefa impossível!

Mas eu fico me perguntando o que leva alguém à criar uma capa dessas? Será que ele leu o livro antes? Provavelmente, não. Eu me pergunto então, como teria sido o briefing que passaram pra ele: "Uma criatura parecida com um gárgula, mas dourada, usando um colant cor-de-rosa com uma pochete azul e portando uma lança e um escudo." Acho que ele estava usando os restos de tinta que tinha em casa pra pintar o bicho...




Só pra constar, os diomedanos descritos no livro se pareceriam mais com algo
semelhante à criatura na imagem ao lado (tirada de outra versão da capa do mesmo livro).

Ah, e humanos usando capacetes pseudo-medievais de cores gritantes também não aparecem no livro.

Mas enfim!

A despeito da qualidade tecnica da capa, o livro é interessante. Basicamente, é a história de três humanos que sobrevivem à queda de uma nave espacial mercantil no planeta Diomedes, e se vêem às voltas com uma guerra entre os homens-alados do título, os Drak'honai e os Lannachska, que são duas etnias da raça dominante do planeta, ainda na idade da pedra. O objetivo dos humanos é cruzar meio planeta para chegarem à um posto de comércio humano onde podem encontrar alimentos que não sejam nocivos à sua espécie - apesar de ser semelhante à Terra, Diomedes possui enzimas com propriedades extremamente alergênicos aos humanos, capazes de matar um homem em dez minutos se eles apenas beberem um gole de água do planeta.

Claro que, em meio à suas tentativas de alcançar o tal posto de comércio, eles acabarão se envolvendo substancialmente na guerra diomedana.

É interessante a idéia de Anderson de usar técnicas, tecnologias e até mesmo discursos históricos por parte dos humanos em uma guerra entre grupos que, além de não conhecerem a cultura da terra, também estão em um nível de desenvolvimento técnico atrasado e com uma biologia completamente aberrante.

É um livro interessante, e divertido em quase sua totalidade - apesar do personagem principal ser um sacripantas! - com algumas idéias realmente interessantes.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Contos Fantásticos - O Horla e outras histórias


Na última visita à casa da minha avó, depois de dar uma revirada na biblioteca da anciã, arrebatei uma braçada de livros que me interessaram ou que tive curiosidade de ler. Esse livro específico, peguei como uma espécie de coringa: um livro de contos é sempre algo que eu simplesmente posso desistir de ler depois do fim da primeira história - como, efetivamente, aconteceu com um outro livro que veio nessa mesma leva - sem dor de consciência. Explico: Como eu já disse aqui, detesto desistir de um livro no meio, e geralmente, depois de ter me decidido a ler alguma história, vou até o fim, mesmo que em supremo sofrimento. Livros de contos não são diferentes, é claro, mas têm o benefício de ter várias histórias curtas, geralmente de teor semelhante, o que significa que tendo lido um ou dois contos, eu posso ter uma idéia se quero ou não ler outras histórias do mesmo autor dentro daquela mesma proposta. O supracitado livro do qual eu desisti, é de um autor que eu gosto, mas tinha um teor religioso que não me agradou; assim, depois de terminado o primeiro conto, desisti do resto das histórias que viriam à seguir.

Mas estou me perdendo do foco. De volta ao livro que está no título dessa postagem:

Esse livro de bolso me chamou a atenção pela capa - como é muito comum de acontecer comigo. Apesar da ilustração não apresentar nenhum atrativo, eu tinha uma vaga lembrança de já ter lido o nome Guy de Maupassant em algum lugar. E apesar de não saber do que se tratava "O Horla", o título também me atraiu. Histórias fantásticas são sempre interessantes, afinal!

Mas, diferente do fantástico usual, com magia, animais fantásticos e o material do qual se fazem as lendas, os elementos fantásticos descritos nesses contos são, como é descrito no prefácio:

"(...) aqueles onde existe 'a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais face a um acontecimento aparentemente sobrenatural'. Contos avessos à fé absoluta e à incredulidade total (...)".

Há, é claro, elementos obviamente sobrenaturais no livro. Fantasmas, monstros e criaturas inexplicáveis. Mas estes não são o foco das histórias: a hesitação de crença que eles causam sim.

No total, são 11 contos relativamente curtos - com exceção a'O Horla (segunda versão), que é bem mais longo do que os outros - com focos distintos. 'O Lobo' e 'A Mãe dos Monstros' são dois contos excelentes, enquanto os outros são moderados, bons mas não particularmente inspirados - ao menos não para o paradigma contemporâneo. Mas o grande conto do livro é, como bem diz o título, O Horla. As duas versões estão presentes no livro, e apesar da segunda suplantar e expandir a primeira, esta também é interessante pela questão do ponto-de-vista.

Como todos os leitores usuais do blog sabem, eu raramente faço comentários sobre a trama, para não prejudicar possíveis surpresas, mas admito que é bastante difícil não fazê-lo nesse caso, para exprimir o meu espanto e admiração por O Horla. Não posso deixar de apontar, no entanto, uma semelhança de sensação desta história com a obra de Lovecraft; horror na sua melhor expressão.

Fica, então, minha sugestão para aqueles que puderem que leiam, ao menos, O Horla (segunda versão) se mais nada do autor. Vale cada página virada!

Em tempo: Depois de ler esse livro, fui verificar a lista de obras do autor e, apesar do nome ter me soado familiar, não lembro de ter lido nada dele anteriormente. Mas essa pequena obra foi mais do que suficiente para eu poder dizer que ao menos um punhado de boas histórias Guy de Maupassant escreveu.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A Espada Diabólica





Depois de muitos anos lendo e relendo as versões em quadrinhos do Elric lançadas no Brasil - A mini-série Elric, a graphic novel Navegantes dos Mares do Destino e a edição do Conan em que o albino faz uma aparição - eu finalmente tive a chance de botar as mãos em um livro do Michael Moorcock: A espada Diabólica (Stormbringer, no original).

As três histórias do Elric que eu citei acima sempre foram parte do meu imaginário de fantasia - a mini-série Elric foi uma das primeiras HQs de fantasia que eu tive a oportunidade de ler - quando pensava em personagens interessantes e em cenários incomuns.

Elric é o último Melniboneano, uma raça de feiticeiros ancestrais, cujos poderes estavam intrinsecamente ligados ao Caos. Melniboneanos são capazes de invocar magias utilizando as forças do Caos sem que essas forças lhes afetem - humanos normais são 'distorcidos' quando entram em contato com as forças do Caos, tanto mental quanto fisicamente - graças à pactos que fizeram há milhares de anos com os demônios Caóticos. Esses poderes sobre o Caos lhes permite viver muito mais longamente do que humanos normais, e  ainda lhes confere domínio sobre os Dragões, que dormem sob a ilha de Imrryr, a capital do império melniboneano, e despertam apenas quando seus mestres necessitam. Graças à tudo isso, eles dominaram o planeta por centenas de anos, se auto-proclamando reis-feiticeiros, e impondo sua tirania sobre o mundo todo.

Mas, como todo o império, este também chegou ao seu ocaso. Elric é, como eu disse, o último descendente da raça - na verdade, ele tem um primo melniboneano puro, também, mas este não é decendente direto dos reis-feiticeiros -cujo império sucumbiu em decadência quando ele ainda era jovem.

Além de ser o último descendente desse império morto, Elric também é albino. Além da aparência distinta - pele e cabelos completamente brancos e olhos vermelhos - seu corpo também é fraco e débil devido à doença.

Mas ele é o escolhido para possuir a mais poderosa arma já forjada: Stormbringer, que drena a alma de seus oponentes e tranfere a força vital dos adversários assim abatidos para o seu portador. De posse da espada, Elric é inigualável em combate singular - desde que Stormbringer tenha se 'alimentado' recentemente.

Então, depois de todos esses anos relendo as mesmas velhas histórias de Elric, eu finalmente me deparei com um livro do personagem! Sem exitar, comprei o volume. Nada muito grandioso, pouco mais de 160 páginas.

Com uma linguagem rebuscada, e com expressões por vezes estranhas - Tonitruante? Alimária? Enxárcia? Sim, precisei consultar o dicionário mais de uma vez durante a leitura! - o livro tem um ritmo um tanto quanto frenético, com as ações se sucedendo rapidamente e cenas curta sempre jogando o leitor rapidamente adiante. Admito que demorei a me acostumar com o ritmo do livro, e a forma de escrita, mas da metade do livro ficou difícil largar a leitura.

O livro tem várias passagens bastante interessantes, e muitas ações  reações inesperadas, e apesar de não ser completamente imprevisível, o final e bastante dramático.

Apesar da capa medonha da edição brasileira, que mostra Elric não só com uma roupa e uma expressão que não condizem com o personagem, mas também dificultam a simpatização com o personagem - ele ficou com uma cara de mancebo romano sem emoção - eu tive suficiente informações visuais do personagens vindas das edições em quadrinhos que li, e o visual criado por P. Craig Russell (e que ilustram essa postagem) não me abandonaram durante a leitura. Sugiro àqueles que se interessarem por ler esse livro que primeiro leiam as edições que citei lá no início dessa resenha, pra se "aclimatarem" ao personagem.