sábado, 29 de outubro de 2011

O Velho Sábio da Montanha


O velho sábio da montanha sempre tem um conselho sábio, velho e montanhoso para dar. Ele sempre sabe o que dizer. Ele é aquela entidade para qual nenhum problema é grande demais, para qual toda questão tem uma solução.
O velho sábio da montanha sempre sabe o que dizer. Ele tem mais de mil anos, e, portanto, já passou por tudo o que há para passar. Já viu cem vidas, já foi do oriente ao ocidente, conhece tudo o que há para conhecer, viu tudo o que há para ver.
O velho sábio da montanha sempre foi velho, sábio e sempre esteve na montanha, onde se vai, em peregrinação, em busca de seus sábios conselhos. Ou até onde se chega em companhia de alguém que vai ver o velho sábio da montanha. O resultado é sempre o mesmo: Estupefação diante da antiga sabedoria da montanha.
Aqueles que aceitam os sábio conselhos do velho sempre voltam à montanha, não apenas para pedir novos conselhos, mas também para levar outras pessoas à montanha, onde se encontra a velha sabedoria. Ou apenas para aproveitar da companhia aprazível do velho - e da bela vista da montanha!
Mas... E o velho? Quando ele precisa de um conselho, pra quem pedir?
Quem poderia dar conselho pra alguém tão velho, sábio e montanhês?
Será que o velho não tem dúvidas? Será que passa os dias em sua montanha, simplesmente envelhecendo e crescendo em saber, a cada dia?
Não terá o velho subido a montanha porque não achava o que queria, o que precisava, la embaixo?
Será que o velho não desce da montanha por medo? Por medo de não estar lá quando alguém subir amontanha para pedir um conselho? Ou será, talvez, por medo de descer a montanha e só encontras as mesmas dúvidas que o fizeram subir, pela primeira vez, séculos atrás, a tal montanha?
Será que ele não se sente solitário, lá no alto, tá sábio, velho e sozinho?
E quando o velho está triste, será que alguém sobe a montanha para dar-lhe um abraço?
E quando o ele chora, quem pode oferecer um ombro amigo?
Pobre velho, em sua montanha.
Solitário em sua sabedoria.
Só, sábio e velho, lá, no alto...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Frankenstein, O Prometeu Moderno


Muito bem. Nada de divagações, desta vez!

Vamos nos ater ao livro!

Começando de modo mais sóbrio, deixem-me dizer que o adaptador do livro é Leonardo Chianca. Apesar de ter escrito um bom punhado de livros - não lí nem reconheci nenhum deles - aparentemente Chianca se dedica, desde 1999 a adaptar clássicos, como peças de shakespeare, a odisseia e a ilíada gregas, Moby Dick, Drácula e o Frank aqui. Mas admito que, depois de ler a sua adaptação - em uma noite, para honrar a memória da "lenda urbana" que diz que Mary Shelley, a autora, teria escrito o livro em uma noite - eu fiquei com uma impressão de que alguma coisa estava errada. Não sei dizer muito bem o que é, mas me pareceu que ele escolheu as palavras erradas. Que faltou certa ênfase. Talvez o uso de palavras menos coloquiais em alguns momentos... Lí a obra em um tom monotônico, sem emoção. É, claro, uma ótima hstória, pela qual sou apaixonado, e é exatamente por isso que achei tão estranha a daptação. Não é a primeira vez que leio - inclusive não é a única versão do livro que possuo... - e provavelmente vou ler outras versões nos próximos tempos, para tentar entender o que eu achei tão "fora do lugar" nessa adaptação de Chianca.

De qualquer forma, como eu já disse, é uma excelente história. Estamos lidando aqui com um gênio, que faz uma descoberta que mudaria o mundo, apenas para perceber, com horror, que havia criado um monstro. Por mais que seja apenas um conto de ficção, eu nunca consigo deixar de traçar um paralelo entre Frankenstein e seu monstro e Einstein e a energia atômica - guardades as devidas proporções, é claro. Einstein não desenvolveu toda sua teoria em pouco mais de cinco anos, nem criou a bomba atômica por sí próprio, mas enfim, acho que dá pra entender a comparação - ou só eu vejo o paralelo...?

Enfim!

Para além disso, o livro trata de outras questões, que acredito nem serem do interesse direto da autora no primeiro momento. O medo da solidão - que me ataca sumariamente, alias; de todos os medos que eu posso ter, esse é com certeza o maior e mais pungente de todos - através da intolerância; o pré-julgamento pela aparência; o isolamento ao qual muitas vezes submetemos os outros baseados naquilo que vemos, e que não podemos aceitar. Não, o "monstro" não é humanos, mas ele não é atacado e banido por ciência sobre esse fato, e sim por simplesmente ter uma aparência deformada. Ele nunca ataca antes de provocado, e é sua simples visão que gera a agressão. E quantas vezes não vemos isso, ainda hoje, nos jornais? Este aspecto do livro de Shelley está tão ou mais vivo hoje do que quando a obra foi escrita.

Outro aspecto da história que me agrada sobremaneira é a decisão de Frankenstein de negar, no último instante, uma "igual" ao seu monstro original. É nesse momento que ele perde a oportunidade de redenção definitivamente. Ele poderia ter entendido o seu monstro durante a conversa que ambos travam nas montanhas, no seu primeiro encontro, mas não consegue perdoar a criatura pelo ato que cometeu. Ou não consegue se perdoar por ter criado algo que foi responsável por matar em seu nome. Mas, quando mais tarde, ele tem a oportunidade de terminar com a solidão da criatura, de criar um segundo monstro para aplacar a fúria do primeiro, para equilibrar a balança que ele próprio fez pender exageradamente, ele se mostra incapaz. Há tantas formas de se entender seus motivos quanto há de execrá-lo pelos mesmos. E, no fim, apesar de sabermos que ele está pagando pelos seus próprios erros, fica um gosto amargo na boa de que ele próprio podia ter feito tudo ficar em ordem, ou ao menos em uma relativa ordem. E por mais que a criatura seja passivel de compaixão, é impossível não odiá-la por matar inocentes de forma premeditada.

Este é um livro sobre monstros. É um livro sobre monstros mortos-vivos, e sobre homens enlouquecidos pelo seu orgulho monstruoso. É um livro sobre os monstros que nós somos diariamente.

Em tempo: Mary Shelley nunca disse que escreveu o livro em uma noite. Ela teria tido a ideia para o livro em uma noite de tempestade, depois de ouvir uma conversa sobre experiências com pernas de rãs que respondiam à impulsos elétricos. Isso teria acontecido no verão de 1816, e a primeira versão de Frankenstein, O Prometeu Moderno, só ficaria pronta na primavera de 1817. Mas a versão que conhecemos hoje é bastante diferente da original, tendo sido modificada por Mary Shelley ao longo dos anos, e a "versão definitiva" foi publicada apenas em 1831, desta vez com créditos à autora, que inclusive incluiu um prefácio explicando a origem do livro.

Frankenstein e o Ato Criador

Ah, Frankenstein. O Prometeu Moderno. O Adão de uma nova geração de homens.

O monstro do dr. Viktor Frankeinstein sempre produziu uma atração em mim. Eu não sei bem o que eu gosto na estória. Ou, na verdade, não sei exatamente o que mais me atrái na estória. Há, de fato, muitos aspectos no conto que simplesmente me atraem - ou me preocupam - em maior ou menor grau. A ideia de criar uma entidade capaz de se mover e agir por sí própria é algo que possivelmente atrai uma grnade parte da humanidade; Sim, há muitos de nós que se deliciam com a ideia da peternidade, mas à nós, meros homens, machos da espécie, fica relegada a função de acompanhar e apoiar apenas, enquanto é a mulher quem genuinamente gera a vida dentro de sí. Admito que essa capacidade criativa suprema sempre me causou algo de inveja da natureza feminina. E talvez daí venha esse meu fascínio pela ideia de poder criar. Eu sempre acreditei que, mais do que simplesmente uma questão de cultura, a absoluta superioridade de homens na arte se deve à esse único fato: Nó não podemos criar nada. Somos meramente observadores da maravilha da maternidade. Acredito que há, em todos nós artistas, um desejo ardente de sermos capazes de criar algo, de produzir ao menos uma faísca de vida, uma reprodução inanimada da vitalidade que apenas as mulheres são capazes de realmente criar.

Não creio, porém, que este seja um desejo restrito aos artistas, nem que todos tenham esse desejo, mas acredito que é muito dessa incapacidade que faz com que nós, machos, lutemos para nos tornarmos maiores, mais poderosos, reconhecidos, importantes. Para que se possa dizer que nós criamos algo por nós mesmos, que deixamos algo depois de nossa passagem mundana. Posto que, nossos filhos não são nossos frutos, mas sim de nossas fêmeas. E quão frustrante pode ser, para nós, machos, o fato de sabermos que, se uma mulher nos diz que "este filho não é teu!" nós nunca poderemos dizer com certeza que essa afirmação náo é verdadeira. Mas não se pode dizer o mesmo para uma mulher, posto que ela carregou a criança em seu ventre, e, não importa quem é o pai, aquele filho é, sem dúvida, sua criação!

Eu sempre acho estranho que, diante simplesmente deste único e simples fato, não sejamos todos nós, machos, convertidos em simples adoradores e cultistas das mulheres, que são Deusas incarnadas, capazes de fazer aquilo que nós jamais poderemos: Criar a vida.

Oh, sim... Frankenstein. Tenho mais coisas a dizer sobre o livro, e a história, mas agora se apodera de mim uma melancolia profunda.

Como somos pequenos nós, homens.

domingo, 2 de outubro de 2011

O Nome da Águia


"Oásis de Meribá, 3497 A.C.
Em uma das treze tribos que deram origem ao povo hebreu, nasce um conflito que se estenderá secretamente pelos próximos milênios, gerando guerras e deixando marcas profundas em nossa história.

Berlim, 2012 D.C.
às vésperas das eleições americanas, um grupo de arqueólogos faz uma descoberta surpreendente em um bunker enterrado desde a Segunda Grande Guerra. Uma descoberta que poderá transformar este conflito de bastidores - mais uma vez - em uma guerra declarada, mudando o futuro da humanidade."

Admito que, graças à contracapa, eu quase não lí o livro. Na verdade, depois de ver a capa em sí, e depois ler a contracapa, quando minha mãe me entregou o livro e disse "Olha, tua vó disse que tu ia gostar.", eu só coloquei o livro na lista de espera porque, bom, eu gosto de agradar a minha avó...

Todos hão de concordar comigo que, pela contra-capa, o que se imagina é um livro onde, outra vez, os nazistas malvados fizeram alguma coisa - mais! - errada e que os pobres judeus tinham algum ensinamento lindo de cinco mil anos escondido, pronto pra mudar o rumo da história.

Já cansei de ver os nazistas como os vilões petulantes, prepotentes e irracionais todas as vezes. E não estava a fim de ler outra história que trouxesse isso - ainda mais com aquele Buda na capa do livro, o que provavelmente significava possivelmente algum tipo bizarro de livro de auto-ajuda, sei lá...

Enfim. Depois que meus livros todos acabaram - inclusive andei relendo alguns livros muito velhos de RPG só por diversão, porque estavam realmente escassos os livros "inéditos" por aqui... - eu decidi que era hora de dar uma chance à obra do seu Alexandre Lobão.

E não é que o livro era bom?

Não vai entrar pra minha lista de "top 10", mas é um livro que eu posso recomendar sem titubear.

A narrativa é extremamente ágil sem deixar de ser detalhistas nos momentos necessários, os capítulos curtos e com cortes extremamente "irritantes", daquele tipo que te fazem seguir lendo pra saber como vai continuar em seguida, além da escolha de estrutura, com capítulos focando em personagens diferentes alternadamente, fazem da leitura um ato quase compulsivo. É muito difícil deixar o livro de lado. De fato, apesar de ter 320 áginas, eu só levei dois dias lendo porque no meio do caminho eu precisava assistir aulas na faculdade e trabalhar - além das outras coisas menos importantes, como comer e dormir... Num período de férias, ou num fim-de-semana, o livro teria sido devorado em uma única tarde, com certeza.

Sobre a trama, sim, nós temos nazistas malvados, e os Judeus são mesmos os heróis do livro. Mas também temos hunos malvados, inquisidores malvados, romanos malvados e até judeus malvados! Alias, o livro tem um excelente "vilão-mór", com motivações muito bem explicadas ao longo do livro.

E apesar de termos mesmo um foco numa eleição estadunidense, coisa que eu achei bem desnecessária quando lí a contracapa - sério, a capa e a contracapa foram feitas pra o sujeito não ler o livro! - no fim isso fez muito sentido!

Eu já tinha uma boa ideia de como o livro ia acabar lá pela metade, admito, mas também é preciso dizer que isso não diminuiu em nada a vontade de continuar a leitura, porque eu ainda estava muito curioso pra saber como tudo ia se desenvolver. E o final, apesar de não ser exatamente surpreendente, é... Bom, surpreendente! Apesar do final ser realmente previsível, o modo como ele se desenrola não é. Ao menos, pra mim, não foi, nem um pouco!

Bom, o ponto negativo do livro é o romancezinho desnecessário. Não entendo porque todos os livros e filmes agora precisam ter a droga de um romancezinho no meio. Não ajuda em nada a narrativa, não faz nenhuma diferença pra estória, não atrai leitores - ou expectadores, no caso dos filmes - e continuam sendo insistentemente adicionados às obras! Sério, sempre que eu leio a descrição da "garota", eu fico pensando comigo mesmo que o autor teve uma paixonite por uma guria com aquela descrição ou então aquela é a "garota ideal" à qual ele dedica seus momentos de onanismo diários...

Ah, e pra finalizar esta resenha, deixa eu falar sobre uma coisa que me agradou sobremaneira: AS notas de rodapé! São 113, acho, ou algo muito próximo disso. É praticamente impossível virar uma folha e não ver ao menos uma notinha de rodapé te esperando alí, na próxima página! E eu adoro notas de rodapé! O livro tem uma quantidade absurda de informações interessantes, nos seus pés-de-página, e eu fiquei muito satisfeito em ler um livro que teve uma quantidade tão grande de pesquisa!

Bom, como nota final, devido à narrativa do livro, o assunto e a boa história, eu não me espantaria nem um pouco em ver o romance ser transformado em filme. Eu iria assistir, com certeza!

E levaria minha avó!