sábado, 27 de agosto de 2011

Maktub


Não, eu não andei lendo Paulo Coelho ultimamente.

Na verdade, muito antes de saber que o Mago tinha escrito um livro com esse título, eu já tinha lido Maktub de Malba Tahan. E eis que voltei a ler este livro por esses dias.

Este é um livro de contos curtos que fala sobre a cultura árabe, contando algumas lendas e muitas histórias que exemplificariam o modo de pensar desse povo.

O próprio título do livro vem da expressão do fatalismo muçulmano cujo significado seria "estava escrito, tinha que acontecer". É uma reafirmação do crente daquela religião de que seu espírito se acha plenamente conformado com os desígnios de Allah.

Interessante, porém, é saber que o ilústre Ali Yezid Izz-Eddin Ibn Salim Hank Malba Tahan era um professor de matemática, que rodou o Brasil dando palestras - quero crer que sobre a técnica de contar histórias aliada ao ensino de matemática, coisa que acho pra lá de misteriosa! - e que era brasileiro, e não árabe. E que se chamava Júlio César de Melo e Souza. Sempre achei esse personagem que ele criou muito interessante, e tive oportunidade de ler alguns de seus livros, dentre os quais, O Homem que Calculava é, provavelmente, o mais célebre.

Maktub é uma leitura leve, apesar de poder ser uma leitura que gera reflexão. Eu, particularmente, gosto do livro como um Guia de Referência Para um Mundo Árabe Fictício. Gosto muito de imaginar aquela cultura do modo que Malba Tahan nos apresenta, e acho que ser muçulmano naqueles termos seria definitivamente interessante. Mas, obviamente, a cultura árabe real é tão semelhante aquela descrita na obra de Malba Tahan quanto a Idade Média é semelhante ao ciclo arturiano... Provavelmente é exatamente esse aspecto de conto-de-fadas que me atrai tanto nos livro esse autor. Eu gosto de fugir da realidade quando assisto um filme ou leio um livro. Prefiro deixar os dramas, romances e histórias policiais para o nosso maçante dia-a-dia "real".

Enfim!

apesar de recomendar àqueles que nunca leram Malba Tahan o Homem que Calculava antes de tudo, Maktub é também um bom livro de fábulas. Simples, direto, ingênuo e divertido. uma excelente leitura pra quem quer um pouco de distração e relachamento.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Fortim


Lí esse livro num ritmo normal no começo, depois fui sentindo mais necessidade de ir adiante, de saber o que estava acontecendo. Por fim, do meio do livro em diante, não pude me conter, e sentei, com uma caneca de café e um cachimbo, e não larguei a leitura até chegar no final.

O livro tem um clima perfeito, muito bem trançado. Os personagens são ricos, palpáveis. Todos tem suas motivações e convicções bem claras, e absolutamente nenhuma decisão parece gratuita. O mesmo acontece com o ambiente. É fácil entrar no fortim do Passo Dinu, sentir o ar pesado, ver as cruzes entalhadas na pedra e ficar com frio nas noites de cerração e até mesmo ouvir os passos no pátio de pedra enquanto os soldados alemães andam de um lado pro outro instalando geradores, espalhando lâmpadas e fazendo ronda.

O problema é que tudo isso só se aplica justamente à primeira metade do livro... Os últimos três ou quatro capítulos, em especial, foram uma espécie de anticlímax. Excesso de explicações em um livro que eu vinha caminhando bem no limiar do crepúsculo, criando mais sombras à medida que lançava luz sobre as dúvidas que surgiam. Virou uma espécie de Conan encontra Drácula...

Enquanto temos basicamente os nazistas, com um esquadrão de regulares do exercito alemão e um grupo da SS em uma batalha velada causada pelos líderes, cujas ideologias os colocam em lados opostos dentro do mesmo exercito, tudo vai bem. Mas então o autor no apresenta um par de judeus (pai e filha), e - a extremamente melosa - Magda se torna personagem principal do livro, fazendo com que o livro perca o clima pesado pra se tornar em um romance tosco entre uma judia sem sal e um herói misterioso. E daí pra diante, a coisa toda só desanda...

Um bom livro, realmente, mas com um final que estraga uma experiência que podia ser perfeita.



ATENÇÃO! REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA A SEGUIR! PARE DE LER AQUI SE AINDA NÃO LEU O LIVRO E NÃO DESEJA SABER O QUE O ESPERA NO FINAL!!!



A questão dos últimos capítulos é que eu esperava uma explicação mais simples, na verdade. Deuses vivos andando sobre a terra, imortais em uma luta sem fim, uma entidade que se alimenta do mal do mundo todo... Muito apocalíptico. Eu esperava algo realmente mais "vampiresco". Esperava que Molasar não pudesse sair do fortim devido ao córrego, ou mesmo por causa de alguma maldição. Imaginei que Glenn fosse algum tipo de vampiro também, e isso me animou bastante, ao vê-lo andando pela rua, sob o sol, tal como faria Drácula. Eu esperava talvez um combate entre vampiros que fossem adversários, não entre avatares de divindades esquecidas. Além disso, apesar de Molasar ser "mais poderoso" do que Glenn, a coisa da espada mágica me decepcionou um pouco. Porque o bem sempre tem acesso à artefatos que podem conter o mal, e o contrário nunca acontece?

Além disso o romance instantâneo entre Magda e Glenn, além de extremamente clichê, quebra o clima que tinha sido magistralmente construído até então. Temos excesso de alegria e felicidade em um livro que vinha justamente primando por um clima de desespero e opressão.

Acho que fiquei decepcionado com a complexidade de todos esses elementos, quando tudo o que eu queria era um monstro. Ou talvez dois. E uma luta final travada com espadas, estacas, presas e garras. Ok, talvez alguns zumbis, também... Mas não uma entidade maligna capaz de alterar os sentimentos dos seres humanos ao seu redor, criar psicopatas a partir de camponeses pacatos, controlar as estruturas da sua prisão e se banquetear com todos os males do mundo. E o pior é que ele é vencido por um pescador parrudo com uma espada... Oh, que ótimo!



FIM DAS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA! NÃO HÁ NADA MAIS ABAIXO QUE VÁ ATRAPALHAR SUA LEITURA DO LIVRO! é SÓ UM EPÍLOGO PARA ESTA RESENHA, MESMO... NÃO POSSO EVITAR!



Enfim. Algumas idéias realmente muito interessantes, um cenário bem desenvolvido, um clima apropriadamente tenebrosos e opressivo, e um final decepcionante. Mas que, por incrível que pareça, mesmo estragando o livro, abre a percepção para idéias novas. Ler este livro me deu muita vontade de escrever um conto sobre vampiros...

quem sabe?

domingo, 21 de agosto de 2011

As Viagens de Gulliver


demorei muuuuito tempo lendo esse livro. achei ele estupidamente chato, e com um final "critica social" muito pedante.

Ok, é um conto de fantasia, mas que tenta encontrar soluções inteligentes - e que se mostram bem ingênuas - pro fato da um monte de terras estranhas com gente estranha nunca terem sido encontradas antes... Além disso, muita coisa simplesmente não faz sentido ou é excessivamente bobas.

A parte que mais me incomodou foi o fato de que todos os povos que Gulliver encontra em suas viagens parece mais simples, mais interessante e mais inteligente do que o povo europeu padrão da época. Jonathan Swift parece odiar toda a cultura europeia, principalmente a inglesa, e faz de tudo para diminuí-la. De acordo com o autor, todos os governantes são déspotas, todos os advogados são mentirosos, todos os juizes são corruptos e cada ser humano quer ver os outros pelas costas - ou sob seus pés.

Claro, é uma crítica ao estado inglês da época. Na primeira viagem, Gulliver chega a Liliput, que combatiam em uma guerra antiga com Blefuscu. O motivo da guerra seria o modo correto de se quebrarem os ovos, sátira óbvia ao pouco caso para com os assuntos urgentes da política, às picuinhas e às declarações de ódio aos homens de pensamento minimamente divergente dos seus. Como Swift era Irlandês, ele provavelmente estava fazendo sua crítica à situação política de Inglaterra e Irlanda.

Para mim, brasileiro do século XXI, pra quem a cultura inglesa de século XVIII já é quase uma cultura de fantasia, o livro parece ter sido escrito por um interno de um hospício que tem vários problemas mentais. Lemuel Gulliver fala sobre sí com muita freqüência na terceira pessoa, É megalomaníaco, convencido de que é extremamente sábio e mais capaz de analisar o mundo do que seus conterrâneos, considera a sí mesmo como uma pessoa extremamente agradável e magnética, é capaz de aprender qualquer língua em questão de dias e acredita em homens minúsculos, gigantes, cidades voadoras e cavalos que constroem casas! E tenta fazer seu interlocutor acreditar que é tudo a mais pura verdade!

Na humilde opinião deste leitor, uma crítica política ao estado ingês dos idos de mil e setecentos não tem o menor valor de crítica social, exceto pela graça. Sim, há muitas comparações possíveis entre aquela cultura e a nossa cultura contemporânea, mas no fim, misturar um conto de fantasia com crítica social pesada simplesmente faz com que a crítica pareça leviana e acaba por embotar a fantasia da leitura.

Principalmente porque, diferente da Revolução dos Bichos, por exemplo, As Viagens de Gullivertem uma crítica direta, não mascarada, que só me fazia querer pularumas páginas enquanto Gulliver demonstrava o quanto seu orgulho por sua pátria não passava de falsidade.

E cavalos que usam os cascos com tanta habilidade quanto um homem usa as mãos? Não, amigo, não me convenceu! Não mesmo! Fiquei só imaginando um cavalo tentando pregar as tábas de uma casa... Ai, ai...

Apesar de ser um clássico da literatura inglesa, eu definitivamente não recomendo.

sábado, 13 de agosto de 2011

Terra Imperial


Quando comprei esse livro - por R$ 1,00 - eu estava simplesmente procurando um passatempo. Estava com escassez de leitura, e fui no "balaião" da Monte Cristo pra ver se achava alguma coisa pra ler. No meio de um monte de romances água-com-açucar normais de serem encontrados entre livros em promoção, ví essa capa - essa mesma, já que não consegui uma foto mais decente na internet, e acabei scanneando a minha cópia; Sim, ela tá demolida; já chego lá!

Peguei o livro na hora, e apesar de ter dado ainda uma olhada nos outros títulos, eu sabia que ia ser esse o livro que eu ia levar.

Bom, é preciso dizer algumas coisas sobre a escolha: Eu peguei o livro pela capa. Foi o desenho que me atraiu. O nome podia ser qualquer coisa, porque eu sabia que o livro era de ficção, e era isso o que importava. E o autor? Bom, pode parecer bem idiota, mas quando eu lí o nome "Arthur Clarke" na capa, pensei "Hum, deve ser algum escritor babaca que teve a sorte de ter o nome parecido com o carinha do 2001... E Clark não tem E, acho..." porque faltava, alí no meio, o "C.". Sim, porque eu SEMPRE ouvi falar erm Arthur C. Clarke; mesmo quando alguém pronuncia o nome do sujeito, ele pronuncia assim, por extenso: "ártur cí clarc", e não simplesmente "ártur clarc". Então não desconfiei que fosse mesmo O Arthur C. Clarke! Alias, só descobri que era ele mesmo quando, depois de terminar a história em sí, lá nos agradecimentos, estava o nome do sujeito com aquele emblemático "C." entre o "Arthur" e o "Clarke". Junte-se à isso o fato do livro estar num balaião... O Oscar, depois me explicou: A capa tava tão detonada que ele não teve coragem de cobrar mais de um pila pelo livro. Bom, feliz eu!

Então, posso dizer que lí o livro sem nenhum tipo de expectativa. E, claro, o livro é fabuloso! É basicamente a história da viagem da segunda geração de clones de uma dinastia que praticamente comanda Titã, a lua de Saturno, que vai à terra para participar do evento de 500 anos da assinatura da Declaração de Independência dos EUA, e no processo criar a nova geração clonada da dinastia McKenzie.

Sim, é um livro tipicamente estadunidense, que descreve como, num futuro nem tão distante, os mais importantes homens de todo o sistema solar se reúnem na terra para prestigiar um evento dos EUA, num momento histórico em que, aparentemente, todo o planeta terra E as colônias do sistema solar inteiro seguem as regras dos "americanos" sobre conduta e bons costumes... Enfim...

Aforando-se isso, que, na verdade, é apenas o pano de fundo para uma excelente história de reflexão sobre o impacto da tecnologia no dia-a-dia dos seres humanos, quais os rumos que deveríamos seguir, quais poderíamos seguir e como os referenciais de cultura são importantes para a humanidade, temos um excelente livro sobre auto-descoberta. Sobre como, as vezes, uma pequena decisão, ou mesmo um pequeno conhecimento podem ser o ponto focal de todo o resto da vida de um ser humano.

apesar de muitos dos dados científicos que o autor levanta fugirem completamente do que eu particularmente poderia chamar de entendimento, as questões técnicas sobre gravidade, navegação interplanetária e fenômenos naturais de Titã dão um sabor especial ao livro, que provavelmente seria uma obra bastante chata se focasse simplesmente na viagem de um imigrante estadunidense, digamos, no japão, voltando de navio para o primeiro centenário da assinatura da independência... Lógico, que nesse caso não teríamos o final de Terra Imperial - ele seria, se não impossível, muito pouco plausível!

Enfim! É um bom livro, com um teor otimista para o futuro da humanidade e da terra, com uma boa história com subtramas interessantíssimas e uma narração bastante peculiar, que me ganhou já nos primeiros capítulos!