sábado, 30 de julho de 2011

Sherlock Holmes - Edição Definitiva


Um amigo me emprestou as duas primeiras edições dessa coleção, e eu terminei de ler apenas a primeira até aqui.

A definição "Definitiva" nunca me pareceu tão adequada. Além de notas explicando questões de cultura e hábitos, há uma explicação sobre locais, itens, veículos... E uma quantidade impressionante de notas - de relevância variável - sobre o que diversos autores que estudaram os escritos de Conan Doyle dizem a respeito de determinadas situações vividas por Holmes e Watson. Além de uma quantidade bastante relevantes de fotos de locais relevantes e também ilustrações realizadas para ilustrar as aventuras do detetive mais famoso da história.

Há um longo prefácio no livro, explicando tudo o que se sabe sobre a vida de Holmes, Watson e Conan Doyle, e o modo como o livro é escrito faz crer que todos os três realmente respiraram o ar londrino no século XIX. Absolutamente brilhante.

Eu não conhecia a maior parte dos casos apresentados no primeiro volume, e apesar de não ter ficado particularmente impressionado com nenhum deles, alguns são realmente bastante divertidos. Eu consegui desvendar o "Caso da Liga dos Cabeças Vermelhas" junto com Holmes, mas foi uma excessão. O poder de observação de Holmes é impressionante, e apesar de muitos dos mais relevantes detalhes serem dados ao leitor a medida que o detetive vai fazendo novas descobertas, é bastante difícil acompanhar a linha de raciocínio de Holmes. Estou realmente curioso pra ler os casos do segundo volume, e espero conseguir por as mãos nos outros três volumes da coleção!

Excelente leitura, pra qualquer um que tem um mínimo interesse em Sherlock Holmes, ou na sua época!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Crônicas do Gelo e Fogo - A Fúria dos Reis


Bem, terminado este segundo livro das Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin, eu decidi que definitivamente não vou ler mais nenhum dos livros deste senhor, por um bom tempo.

Talvez tenha sido a influência da leitura das Crônicas Saxônicas, que eu tanto gostei, e do estilo de Bernard Cornwell, que me agradou sobremaneira, mas o fato é que eu definitivamente não gosto do jeito que Martin escreve.

A história é boa, não há como negar, mas tantos detalhes me irritaram durante a leitura do livro, que simplesmente azedaram a leitura como um todo. Além de muitas coisas simplesmente não fazerem sentido nenhum, do meu ponto de vista.

Alguns destes detalhes podem não incomodar determinados leitores, mas a mim, incomodou sobremaneira, a ponto de eu estar pronto pra desistir de ler o livro até o final, quando cheguei ao final do segundo terço da leitura...

Eu pretendia fazer uma postagem sobre as questões que me incomodavam no livro, mas depois que terminei de escrever sobre os (muitos!) problemas sexuais dos personagens, acabei decidindo falar mal apenas da sexualidade do pessoal de Westeros, e deixar as outras questões para uma futura postagem.

Não gosto de "fazer spoiler", mas alguns dos hábitos sexuais dos personagens podem "gerar spoilers", então fica o aviso:

POTENCIAIS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA ADIANTE

Tyrion Lannister tem mania de se apaixonar por prostitutas. Nada grave, num primeiro momento, mas o fato é que ele sabe que isso não pode dar certo, mas mesmo assim vai em frente. Comportamento sexual auto-destrutivo na veia!
O rei Robert Baratheon era casado com Cerceis, e nem pra aproveitar a esposa prestava. Ao invés disso, só ia pra cama com... prostitutas - olha elas aí outra vez! Usar o sexo pra humilhar alguém numa corte de gente podre como a de Porto Real simplesmente não faz sentido. Isso pra mim é fixação, mesmo!
Alias, falando na corte de Porto Real, vejamos: O conselho é composto por um Eunuco, um cafetão e um velhote que usa viagra!
Nem o mais nobre dos personagens, Eddard Stark escapa das peripécias sexuais: Apesar de toda a sua conhecida honra, o sujeito foi pra guerra e voltou com um filho bastardo nos braços! Ninguém parece conseguir manter o pênis dentro das calças, na história...
A esposa do sujeito, a Senhora Catelyn, apesar de ser toda Grande Dama Certinha, foi deflorada pelo cafetão do conselho real, e não consegue esquecer o sujeito.
Theon Greyjoy? Sádico com as mulheres!
Khal Drogo, Sádico também!
Daenerys Targaryen acabou gostando do comportamento sexual do marido, o que não deixa de classificar a guria como masoquista.
Falando neles, os Targaryen tem uma tradição de incesto entre irmãos. Não, não foi o Drogo que deflorou a Dany, foi o irmão "furioso", Viserys.
Cerceis e Jamie, irmãos gêmeos, também curtem um incesto! A Cerceis ainda curte mais a coisa, porque não poupa irmãos, primos... Se é da família, tá valendo!
Sansa Stark tem seu complexo de Princesa em Apuros.
Brienee de Tarth e seu amor platônico por Renly Baratheon.
Lysa Arryn, do ninho da águias, e sua fixação doentia pelo próprio filho, que mama no peito apesar de já ter oito anos!
Palla, de Winterfel, uma ninfomaníaca declarada!
Hother Crowford, o Terror das Rameiras - título oficial e auto-explicativo...
Ainda há os Frey, com seu patriarca, Walder, que mantém as filhas e netas como esposas!
E isso me lembra o velho Craster, ao norte da muralha, que sacrifica todos os filhos homens para os Outros, e desposa todas as filhas e netas!

Ah, lembrei do "momento revolução francesa" em Porto Real: Todos os Cavaleiros e nobres pegos pela turba enfurecida foram mortos à pedradas e pauladas, exceto Lollys, a única mulher derrubada de seu cavalo, que foi estuprada por pelo menos quarenta cidadãos e depois largada, nua, na rua...

E não só os guerreiros Dothraki mas também todos os grupos de guerra dos três reis são compostos por bandos de estupradores convictos, que violentam todas as mulheres, guardando as mais jovens como prostitutas, as vezes inclusive deixando-as expostas em praça pública para serem "aproveitadas" por qualquer um que as queira!

E eu nem vou falar dos personagens com inclinação homossexual da trama, porque se eu colocar isso entre os personagens com "problemas sexuais", provavelmente os direitistas vão fazer escândalo... Mas há alguns destes também, inclusive alguns pedófilos...

FIM DAS POTENCIAIS REVELAÇÕES SOBRE A TRAMA

Oh, bem... Na verdade, ainda há outras questões no modo de escrever do sr. George que me incomodam, mas essa postagem vai ficar realmente longa se eu continuar, e posso guardar algumas opiniões para postagens posteriores - ainda quero falar um pouco sobre o primeiro e o segundo livro, comparando-os entre sí.

Enfim!

George R. R. Martin pode ser considerado por muitos como o "Tolkien Americano", mas pra mim, ele se parece muito mais com um nerd velho e gordo com problemas sexuais!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Crônicas Saxônicas - Terra em Chamas


Findo o último dos livros das Crônicas Saxônicas ao qual tenho acesso. Não sei se mais algum já foi escrito ou traduzido, mas espero ansiosamente pela continuação da saga de Uhtred de Bebbanburg.

A leitura desse livro, assim como seu antecessor, foi gravemente perturbada pelo meu estado de espírito. Eu devorei este livro até a metade mais porque precisava ler algo pra manter a mente focada do que para apreciar a leitura. Como conseqüência, só consegui fruir do final do livro. Li um Readers Digest quando já tinha passado do meio deste quinto livro d'As Crônicas - cujas quatro histórias eram igualmente lamentáveis... - e assim, consegui ler os últimos cinco capítulos, apenas, com um mínimo de concentração na história.

Assim, não posso dizer muito sobre o livro. Tem um bom final, posso garantir, e poderia terminar ali mesmo, diferente dos três anteriores. O final é agridoce, bem ao meu gosto, e apesar de deixar uma vontade de ler o que acontece a seguir, me deixou satisfeito.

Uma das coisas que percebi nesse livro é que o tempo decorrido entre ele e A Canção da Espada foi longo, e muitas coisas mudaram entre os dois livros. Muitos personagens envelheceram, e eu não fui capaz de acompanhar esse envelhecimento. Não consigo imaginar o Uhtred deste livro, nem Ragnar ou mesmo Brida. Apesar de haver boas descrições destes personagens, eu simplesmente continuo lembrando de seus semblantes como um bando de jovens cheios de energia e vida, e não como pessoas mais velhas do que eu sou agora, cada um com suas características de "gente madura". Creio que isso foi muito devido à minha leitura sem foco completo no livro anterior e neste d'As Crônicas, mas não sei até onde isso é verdade, e até onde a culpa "real" é do autor. Quando reler essa saga novamente, espero que essa incapacidade de acompanhar o envelhecimento dos personagens seja sanada.

Enfim! Lamentavelmente desnorteado durante a leitura deste livro, só posso dizer que, apesar de tudo, Bernard Cornwell me levou em uma viagem maravilhosa pela Inglaterra medieval, me ensinando detalhes da vida daquele povo naquele período histórico que certamente enriqueceram meu pequeno livrinho de conhecimentos gerais! E me deixou boquiaberto com sua capacidade impar de descrever um combate!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Crônicas Saxônicas - A Canção da Espada


Este é um livro que precisarei ler outra vez, algum dia.

Não apenas por ser um bom livro, mas, principalmente, porque ele não foi degustado como os anteriores. Ele foi muito usado como uma tábua-salva-vivas, enquanto eu me afogava num mar revolto e gelado de fim de namoro. O resultado, óbvio, é que lí, porque naquele momento, mais do que querer ler, eu precisava ler desesperadamente, e acabei não absorvendo a história do livro. Não "entrei" Wessex do século IX como nos livros anteriores.

Assim, esta é uma, digamos, "resenha parcial". Eventualmente, quando voltar a ler esse livro, eu farei uma resenha de verdade. Preciso ler de coração, pra poder escrever de coração, afinal de contas.

A Canção da Espada do título se refere ao sentimento de guerreiro que nosso amado Uhtred sente neste livro. Ele, aqui, é um guerreiro maduro, poderoso, no auge da sua capacidade, e com uma reputação terrível!

Não vou contar da história propriamente dita aqui, mas, como o próprio autor revela no final, em suas Notas históricas, este é o mais romanceado de todos os livros até aqui. E é exatamente essa a impressão que temos - ao menos quando lemos isso nas Notas Históricas. A história segue sendo contada do mesmo modo, e os personagens continuam com suas mesmas naturezas, mas há um "quê" de... Hum.... Não sei, conto de fadas, talvez.

Uhtred, nosso bom Uhtred, tornou-se um mestre da espada-escudo. Ele mata, destrói, esquarteja os inimigos sem dó nem piedade, e a maneira como Cornwell descreve essas ações nos fazem perceber que nesse ponto da historia, ele é seguro, confiante. Não há nada de indecisão em suas ações. Esse, na verdade, é o ponto mais interessante do livro. Perceber a evolução do personagem até esse ponto. É fabuloso se sentir como um expectador da história de Uhtred.

Um excelente livro de uma excelente saga. Não sei se o melhor de todos, porque, afinal, houveram muitos sentimentos pairando ao meu redor enquanto lia este capítulo da saga de Uhtred, mas com certeza um livro que te impulsiona na direção dos próximos capítulos.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Crônicas Saxônicas - Os Senhores do Norte


Depois da decepção do segundo livro, o terceiro livro das Crônicas Saxônicas me entusiasmou bastante a seguir acompanhando Uhtred em sua busca pela retomada de Bebbanburg! E dessa vez, desiludido com Alfredo, nosso "herói" parte pro ataque, contra os seus inimigos na Notúmbria!

Esse livro foi, até aqui, o mais emocionante de todos! Antigos personagens voltando a aparecer, novos dando as caras, e muitas viradas bizarras ao longo do livro - além de algumas boas batalhas! - realmente fizeram esse o meu livro favorito até aqui. Eu senti frio com Uhtred durante as noites chuvosas, passei fome e adoecí com ele no mar, odiei Kjartan mais do que já odiava, e tive muito medo da matilha de cães parida do caos!

Alias, eu preciso realmente falar sobree a maldita matilha de cães de Kjartan; eu comecei a ler o caítulo final do livro numa madrugada chuvosa de inverno, e acompanhei Uhtred e seus homens na invasão Dunholm debaixo de uma fria garoa e chicoteado por um vento tão frio que parecia que bicava a carne até chegar aos ossos, enquanto o grupo de invasores, por sua vez, se esgueirava debaixo de uma chuva torrencial em uma noite de inverno igualmente fria. Assim, eu "senti" o que eles sentiam, e minha experiência de leitura foi muito mais profunda do que fora até aqui. Dessa forma, praticamente ao lado dos homens de Wessex em seu ataque à fortaleza, eu fui surpreendido, e tremi paralizado de medo quando Kjartan soltou sua matilha de cães assassinos sobre nós. E quando ouvi o lamento de Thyra, e vislumbrei sua tétrica figura saindo do castelo, eu chorei, sentindo o mais puro terror. O medo cresceu a tal ponto, que precisei fechar o livro e interromper a leitura, que só foi retomada quando cheguei em casa e preparei uma caneca de café quante. Terminei o livro, ainda naquela manhã, com um céu cinzento e um vento úmido fazendo tremer minha janela e uivando como aquela matilha maldita.

Este livro me impressionou profundamente, não só pela capacidade de descrição de Cornwell mas também pela sua capacidade de criar situações inusitadas e inspirar o leitor ao longo da narrativa. Um livro perfeito, que com certeza vou guardar na lembrança como uma das melhores obras literárias que já tive o prazer de fruir!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Crônicas Saxônicas - O Cavaleiro da Morte


Comecei a ler o quinto - e último ao qual tenho acesso, ao menos por enquanto - livro das Cônicas Saxônicas de Bernard Cornwell. Como eu não lenho de maneira linear, como eu chamo, isto é, um livro, depois o outro, mas sim vários livros ao mesmo tempo, acabo tendo muito sobre o que escrever. Mas pra não acbar com todos os bons assuntos de uma só vez, vou "guardando" algumas resenhas para mais tarde, quando, talvez, em tempos de vacas magras, eu tenha algo bom pra colocar por aqui - e não deixe o blog às moscas por quatro meses...

Mas eu me dei conta que estou no quinto livro, e só postei aqui a resenha do primeiro! Bom, como as resenhas do segundo e terceiro estão aqui na minha área de trabalho me olhando, e eu preciso começar a escrever a resenha do quarto livro antes que eu misture a história dele com o quinto, é hora de publicar a resenha do segundo livro das Crônicas Saxônicas de Bernard Cornwell, intitulado "O Cavaleiro da Morte".

Admito que o título do livro eu ainda não entendí, mas enfim...

Diferente do primeiro livro, onde nosso protagonista, Uhtred, estava as voltas com sua identidade como saxão e sua simpatia com os dinamarqueses, nesse livro temos um personagem mais maduro, um saxão definido, que apesar de ter ainda um lado viking bem aflorado - é difícil perder velhos hábitos, afinal de contas... - já escolheu o seu lado do conflito.

E essa escolha, na verdade, é o que mais me incomoda no livro. Dando claros sinais de que o lado dinamarqês ainda é o mais atraente, Uhtred decide ficar ao lado do carolas Alfredo e defender as terras saxãs contra os terríveis "bárbaros" do norte. O livro tem uma quantidade exagerada de referências à fé católica, e parece, as vezes, que o autor está tentando catequisar o leitor.

Apesar de um excelente começo, e de uma batalha final épica, o miolo do livro realmente não me agradou. É um tanto quanto... Católico. Demais pro meu gosto. Anseio pelo próximo livro, na esperança - provavelmente vã, uma vez que o narrador Uhtred mais de uma vez diz no livro que, em sua velhice, ainda está sob as ordens de Alfredo, aquele chato! - de que Uhtred rompa com as correntes do cristianismo e volte para o lado dos dinamarqueses, fazendo guerra e saqueando no melhor estilo viking, preferencialmente sob a bandeira de Ragnar.

Pra finalizar esta resenha, uma última observação sobre alguns métodos de Cornwell: É louvável que ele tente fazer com que um leitor seja capaz de entender a história até aqui a partir de explicações de conceitos que foram detalhados no primeiro livro, bem como momentos em que Uhtred se refere a eventos que aconteceram no seu passado, permitindo à um leitor começar a ler as crônicas de Uhtred a partir desse livro, sem precisar ter lido o primeiro volume. No entanto, essa mesma tática me irritou um pouco ao longo do texto, justamente porque parecia que Cornwell se esforçava demais pra relembrar os eventos do primeiro livro. Espero que essa tendência narrativa se dissipe no decorrer dos próximos livros.

além disso, diferente do primeiro livro, este segundo volume das Crônicas Saxônicas termina com um óbvio "to be continued", que no primeiro livro não existia. O Último Reino é uma estória auto-contida, com início, meio e fim. Mas este aqui simplesmente não termina, mas sim abre caminho pra mais volumes da saga. Claro, é muito provável que alguém que leu o primeiro e o segundo livros saiba que existam mais alguns volumes pela frente, e que as Crônicas Saxônicas não terminam aí, mas ainda sim, esse livro me deixou com um certo gosto azedo de "blockbuster" na boca, que o primeiro não tinha deixado.

Enfim, um livro medíocre se comparado ao primeiro.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Da Tristeza

Hoje amanheci um dia triste.

No fim de uma gelada manhã de inverno, vi que o céu ainda estava escuro, mas minha cama estava insuportavelmente quente, e decidi que era hora de ir. A despeito do frio que sabia que fazia lá fora, vesti apenas uma camisa sobre o torso, e saí, com a cinzenta manhã nascendo com o choro cinzento e invernal dos pássaros.

Bebi um café que não me esquentou, e fumei longamente no cachimbo que foi do meu avô, pensando em nada, exceto, talvez, na tristeza daquela manhã.

Com o grande olho do sol começando à espiar preguiçosamente no horizonte, pus meu machado no ombro e fui na direção das toras de madeira seca e prontas para serem rachadas para alimentarem as fogueiras que, nem elas, me aquecerão neste inverno. Ali, deixei que Cernunnos me levasse numa fúria vermelha, para tentar aplacar aquela melancolia tão profunda, que só fazia aumentar e aumentar. Golpeei e golpeei a carne rígida da madeira, e transformei uma grande arvore em um amontoado de galhos, tocos e gavinhas. Mas como a fúria não cessou, grande como era, continuei, e continuei, à beira da fogueira morta na qual, muitas e muitas vezes, vou comungar com os espíritos do céu, da terra, da água e do fogo.

E foi então, enquanto eu tremia naquela fúria angustiada, que a Dama veio e passou seus longos e acolhedores braços sobre meus ombros doloridos, e sossegada, deitou a cabeça sobre mim e sussurrou brevemente em meu ouvido.

A fúria se foi, e ali, na beira daquela fogueira sem vida, me prostrei e permiti que a melancolia se aconchegasse novamente. E a levei para casa, para o banho, através de cada gole de café e de cada tragada de fumo e depois pela rua afora, quando peguei a estrada que me levaria onde precisava ir. Lá, falei, com entusiasmo, à ouvidos mudos, quase todos, sobre minhas proezas e todas as coisas que aprendi. Apenas um homem realmente me ouvia, e seu sorriso sincero me mostrava o que passava em seu pensamento, que seria bom se houvessem mais homens como eu ao seu redor, e não apenas aqueles homens com ouvidos mudos. Apesar de um sincero orgulho e até algum júbilo, a tristeza não se afastou, tão aconchegada que estava em meu peito, sobre meus ombros, em mim.

E tomei a mesma estrada de volta pra casa, enquanto o sol olhava consternado para a tarde fria, e o vento estalava minha manta como um domador que mantém uma quimera invisível fazendo seus truques para ninguém.

E nesse caminho de volta, ouvindo como Doroteia achou e perdeu seu amor, pensei em que belos quadros poderia pintar sobre isso, num momento de inspirador desalento diante do fim das coisas belas. E pensei nas pernas de Doroteia, com seu pé pisado e roxo.

Mas, claro, foram as pernas e os pés Dela que vi. E foram eles que toquei com os dedos frios da minha memória, aqueles pés e pernas, e lentamente, foi percorrendo aquele corpo pelo qual me apaixonei todas as vezes que vi, e que não sei dizer se, algum dia, verei ou tocarei novamente, apesar dos sussurros da Dama.

É bom estar apaixonado. Eu aprendi a amá-La, depois que me apaixonei pela primeira vez, de uma forma mansa e serena. Mas aquela primeira vez não foi a única. Me apaixonei por Ela em todos os reencontros. E me apaixonei novamente no final de cada conversa empolgada sobre tudo e nada. E me apaixonei toas as vezes que vi seu corpo pronto pra se entregar a mim.

Separei os ingredientes, quando cheguei em casa, e comecei a sovar um pão, porque meus amigos vêm me visitar na noite triste deste dia triste, e enquanto espero pelo inchar do pão, para moldá-lo e prepará-lo, ainda choro, lembrado que, apesar de todo o amor e toda a paixão, tão imensos quanto a tristeza que agora pesa sobre mim, não fui capaz de fazê-la tão feliz quanto eu fui. Não abri concessões. Fui egoísta, fui duro e, por fim, matei aquilo que me mantinha vivo. Esfriei o calor que Ela me dava. E essas lembranças são mais amargas do que sou capaz de conceber, e trazem mais pesar do que jamais acreditei que fosse possível haver.

E quando meus amigos chegarem, talvez ainda me encontrem chorando, ou choremos juntos mais tarde, pelas nossas tristezas e perdas, nesse inverno tão, tão frio.

E lhes servirei meu pão, que sovei com meus punhos pesados e temperei com as lágrimas que verti enquanto lembrava da falta Dela, que me traz essa tristeza e fazem meus dias amanhecerem mais frios do que os de qualquer inverno passado.